Autora: Jane Austen
Editora: Martin Claret
Ano: 2015
Qual o livro mais antigo e mais atual de sua estante? Ou que você já leu?
Digo mais antigo no sentido de quando foi escrito, e atual no sentido de refletir acerca do que vemos no mundo hoje.
E o que dizer quando essas duas características estão em UM mesmo livro?
Bom, o meu é Orgulho e Preconceito, ou melhor, um volume contendo 3 livros de Jane Austen, embora a edição seja uma das mais recentes.
Meu foco neste momento é falar sobre Orgulho e Preconceito, então vamos lá.
Você sabia que apesar de Austen ter terminado de escrevê-lo em 1797 ele só foi publicado pela primeira vez em 1813? E que seu título original era First Impressions, porém nunca foi publicado com esse nome?
E apesar disso, apesar de ter sido escrito em 1797 e conter as impressões de uma jovem sobre a sociedade daquela época e região e seus vários aspectos, como cultura, educação, moral, casamentos e relacionamentos de outras naturezas, ainda assim é um livro atual, pois muitas coisas ainda continuam da mesma maneira e em todas as partes.
Resultado de dicionário para ORGULHO (substantivo masculino)
1. sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra.
2. (pejorativo) - sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor-próprio; arrogância, soberba.
Resultado de dicionário para PRECONCEITO (substantivo masculino)
1. qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico.
2. sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância.
"p. contra um grupo religioso, nacional ou racial"
"— O orgulho — observou Mary, que se gabava da solidez de suas reflexões — é um defeito muito comum. Por tudo que já li, tenho certeza de que é muitíssimo comum mesmo; a natureza humana tem uma inclinação especial para esse defeito, e muito poucos dentre nós não nutrem um sentimento de complacência para consigo mesmos, sob o pretexto de uma ou outra qualidade, real ou imaginária. Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora sejam palavras usadas muitas vezes como sinônimos. A pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho está mais ligado à opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, ao que os outros pensam de nós."
A história gira, principalmente, em torno do relacionamento entre a senhorita Elizabeth “Lizzy” Bennet e o senhor Fitzwilliam Darcy. Ela, uma moça de uma área rural na cidade fictícia de Meryton. Ele, um rico e importante aristocrata de Londres.
O caminho dos dois se cruza quando Sr. Bingley, melhor amigo de Darcy, aluga uma propriedade nos arredores de Meryton e se encanta por Jane, a irmã mais velha de Lizzy, em um baile. Apesar de que “o sr. Darcy, logo chamou a atenção do salão pela figura elegante e alta, as belas feições, o porte nobre e a notícia, que passou a circular cinco minutos depois da chegada, de que dispunha de uma renda de dez mil libras por ano”, a impressão mais marcante a respeito do distinto cavalheiro foi sua arrogância e orgulho, e o fato de se julgar superior aos demais. A impressão foi a mais desagradável e mantida assim por muito tempo por Lizzy, a quem o sr. Darcy considerava sem beleza extraordinária, petulante e impertinente.
Ambos, além de outras características de personalidade semelhantes, tem dentre suas características o orgulho e o preconceito, cada um em uma forma de “aplicação”. Enquanto Darcy sente orgulho de si mesmo e, num primeiro momento, se mostra preconceituoso ao se sentir superior aos outros, Lizzy se orgulha de sua inteligência, bom senso e de seu caráter independente no que se refere a pensar por si mesma, porém seu orgulho a faz prisioneira do seu preconceito a respeito de Darcy.
“— O sr. Darcy me convenceu completamente de que não tem defeitos. Ele próprio o admite sem rodeios.
— Não — disse Darcy —; não tenho tal pretensão. Já tenho muitos defeitos, mas não, espero, de inteligência. Não ouso recomendar o meu temperamento. Creio que ele seja um pouco intransigente demais… Certamente muito pouco para a conveniência do mundo. Não posso esquecer as loucuras e defeitos dos outros com tanta rapidez como deveria, nem as ofensas contra mim. Meus sentimentos não se curvam a todas as tentativas de modificá-los. Talvez o meu temperamento devesse ser chamado de ressentido. Quando perco a boa opinião que tinha de uma pessoa, é para sempre.
— Isso é com certeza um defeito! — exclamou Elizabeth. — O ressentimento implacável é uma falha de caráter. Mas o senhor escolheu bem o seu defeito. Eu realmente não posso rir dele. Não tem nada a temer de mim.
— Creio que há em cada personalidade uma tendência a algum mal particular… Um defeito natural, que nem a melhor educação pode superar.
— E o seu defeito é odiar a todos.
— E o seu — replicou ele, com um sorriso — é adorar interpretar mal a todos.”
Além disso, histórias mal contadas e mal entendidos ocasionados por interpretações equivocadas de comportamentos, fazem com que Lizzy leve bastante tempo a mudar de opinião a respeito do cavalheiro em questão.
Em vários trechos do livro senti como se estivesse lendo sobre algo que se passa nos dias de hoje tal é a semelhança com o que vemos a respeito da soberba, ganância, discriminação, preconceito, falsidades e distorções da realidade para proveito próprio, além de algumas pessoas que vivem de aparências ou se preocupam mais com dinheiro do que com a moral ou bom senso (como foi o caso da mãe de Lizzy).
O livro, além de um romance magnífico, é também uma crítica à sociedade e à sua hipocrisia moral (da época e atualmente).
Sinopse:
Na Inglaterra do final do século XVIII, as possibilidades de ascensão social eram limitadas para uma mulher sem dote. Elizabeth Bennet, de vinte anos, uma das cinco filhas de um espirituoso mas imprudente senhor, no entanto, é um novo tipo de heroína, que não precisará de estereótipos femininos para conquistar o nobre Fitzwilliam Darcy e defender suas posições com perfeita lucidez de uma filósofa liberal da província. Lizzy é uma espécie de Cinderela esclarecida, iluminista, protofeminista.
Neste livro, Jane Austen faz também uma crítica à futilidade das mulheres na voz dessa admirável heroína - recompensada, ao final, com uma felicidade que não lhe parecia possível na classe em que nasceu.
"Quanto mais conheço o mundo, mais me sinto insatisfeita com ele; e a cada dia se confirma minha crença na incoerência de toda personalidade humana, e na pouca confiança que podemos depositar na aparência de mérito ou razão."

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